4.2.12

#direto de courchevel: la sivolière, porque os detalhes, mesmo os menores, contam

[A fachada do hotel, num dos trechos mais calmos de Courchevel 1850 (foto de divulgação)]

Como praticamente tudo em Courchevel 1850, La Sivolière não é barato. Mas, na multidão de hotéis de luxo da estância mais badalada dos Alpes franceses, ele consegue destacar-se pela discrição, aconchego, atendimento personalizado, intimismo na medida exata e localização certeira (perto da "movida", mas suficientemente longe para não ser contagiado por ela).

[Os muitos detalhes que fazem do La Sivolière um endereço de charme alpino (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Não é o único, claro, mas há qualquer coisa nele de familiar que me agrada, sobretudo porque essa sensação tem a ver com uma escala humana (marca registada da sua gerente, a incansável Florence Carcassonne) e não com a pretensão de se querer passar por aquilo que não é.

[Na receção fica logo claro que os hóspedes de quatro patas são bem-vindos (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Explico melhor. 

O La Sivolière, ainda que pequeno (com apenas 24 quartos, 11 suites e um apartamento), não cria em nós, seus hóspedes, a ilusão de estarmos a ser recebidos na casa de amigos ricos. Ele não é um hotel-casa, é um hotel-hotel, com todos os serviços inerentes, que nos faz sentir bem porque, precisamente, não estamos na nossa casa e por isso não temos de nos preocupar com rotinas.

[O lobby (foto de divulgação)]

E foi isso, mais do que tudo o resto, que me conquistou nos quase quatro dias e três noites que passei ali.

Não que as outras coisas sejam detalhes de somenos importância. Longe disso.

[Escadaria de acesso aos quartos e suites (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Por exemplo: pais com crianças de tenra idade, cada vez mais "excluídos" em pequenos hotéis, vão gostar de saber que o La Sivolière é a segunda propriedade em França a obter a certificação de Petit VIP, o que, traduzido por miúdos (não resisti ao trocadilho, óbvio eu sei!), equivale a dizer que estendem o serviço cinco estrelas aos mais novos e que todo o pessoal do hotel foi treinado para ser "child-friendly" e estar à altura da situação.

Poderia ser um direito adquirido, mas não é, pelo que o La Sivolière pretende ir além de um simples Kids Club. 

[Um dos 24 quartos do La Sivolière (foto de divulgação)]

Do mesmo modo, as taças com água e biscoitos, na receção, não deixam margens para dúvida: este é também um hotel onde os hóspedes se podem fazer acompanhar dos seus cães. Os bichanos não estão autorizados a circular pelas áreas comuns, mas partilham, em regime de meia-pensão, os aposentos dos donos e têm à sua disposição os serviços de "babás" e até de um osteopata canino.

E quem não tem crianças nem cães, será que estará pelos ajustes?

[Vários detalhes da suite 50 (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

É tudo uma questão de bom-senso. Crianças (bem) educadas sabem comportar-se em qualquer lugar. Donos civilizados sabem educar os seus animais. Pelo menos, em teoria é assim. De todas as formas, crianças não vi durante a minha curta estada, mas havia cachorros no hotel e não dei praticamente por eles. E quando perguntei se o hotel está preparado para apagar os vestígios da sua passagem ("percalços" acontecem nas melhores famílias), a resposta foi firme: "claro que sim. Temos um sistema de limpeza que não deixa o menor vestígio, inclusive de odor se for o caso".

[Mais uma suite (foto de divulgação)]

Ufa! Afinal, ninguém (mesmo quem, como eu, adora bichos) quer chegar, abrir a porta do seu quarto e sentir a "presença" do seu antecessor. Mais ainda se for um antecessor de quatro patas, não é mesmo?

Reconstruído em estilo alpino, o La Sivolière, que já existia antes, ganhou a sua quinta estrela em 2010 e passou por uma remodelação recente que, mais do que  sacudir o pó e mudar as colchas e cortinas, mudou a sua filosofia.

[Pormenores do restaurante 1850, onde as flores são trocadas todas as sextas (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Em 2009, o francês Pascal Chatron-Michaud, especializado em arquitetura de montanha, foi chamado a intervir na estrutura, de forma a torná-la mais conforme à tradição dos chalés da Sabóia. Tristan Auer, designer de interiores com provas dadas em outros hotéis como o Jules de Paris ou o Almyra de Chipre, foi o senhor que se seguiu, sendo responsável por uma decoração que, nas áreas públicas, combina elementos regionais como a madeira ou a pedra com toques mais contemporâneos por conta de peças como os tapetes da Diesel e Moroso, as luminárias de Frédérique Morrel ou o sofá em forma de montanha e catarata desenhado por Gaetano Pesce.

Nos quartos e suites, e faz sentido que assim seja, a tónica é mais alpina, com muita madeira e materiais quentes como o veludo e a lã. Tive a sorte de me calhar uma suite enorme, a número 40, que juntava a tudo isso uma sala com lareira, jacuzzi numa das casas-de-banho e uma varanda com vista primorosa para o bosque nevado. 

[A cozinha está a cargo do chef marroquino Bilal Amrani (fotos de divulgação)]

E ainda assim, mesmo com uma cama king size e lençóis de algodão egípcio, é provável que a primeira noite seja passado em claro... Acontece a muito boa gente e eu não fui exceção. Causas mais prováveis? A adaptação à alta atitude, a incapacidade (assumo) para regular o aquecimento central e... ahã... um jantar tardio com raclette, fondue e tartiflette (volto a dizer: o que é de gosto regala a vida; e acrescento: minimiza danos colaterais).

Comida é, aliás, um detalhe que não passa despercebido no La Sivolière. Já dei um ou outro lamiré a esse propósito em posts anteriores (ler aqui), mas volto à carga para falar do que me agradou mais.

[É na comida mais simples que a cozinha do hotel marca pontos (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Ótima seleção de pães, charcutaria (os salpicões e os salames são a minha perdição) e queijos no pequeno-almoço. Para começar bem o dia, antes de ir para as pistas, nada como uma primeira refeição robusta. Já no regresso ao hotel, ao final tarde, boa ideia a dos crepes (servidos como cortesia a quem está hospedado) e das várias opções para "picar" no cocktail lounge (substituem perfeitamente um jantar).

Mais do que da cozinha à la carte de Bilal Amrani, que não me surpreendeu, eu gostei foi mesmo das suas propostas mais simples, com base nos produtos de mercado, e do toque pessoal em receitas bem conhecidas como a Caesar Salad (a do La Sivolière é mais forte, por conta da mostarda de Dijon).

[As pistas logo à saída da porta (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Da oferta do hotel fazem ainda parte um pequeno centro de bem-estar (pode não impressionar em instalações, mas a equipa, comandada pelo osteopata Christopher Pirel, sabe o que faz; massagens desde €80) e, detalhe muito importante, uma loja de esqui.

Com acesso direto às pistas (ou não tivesse sido "Jeannot" Cattelin, antigo proprietário do La Sivolière, um dos mentores de Courchevel 1850), o hotel está equipado para não deixar faltar nada a quem vem, efetivamente, para tirar o máximo partido do domínio esquiável de Les 3 Vallées.

E são todas estas coisas, somadas ainda ao facto de haver alguns empregados de origem portuguesa e uma cada vez mais significativa clientela brasileira (os mais presentes são os franceses, seguidos dos russos, dos belgas e dos britânicos), que fazem a diferença do La Sivolière.

Rue des Chenus, Courchevel 1850, França, tel. +33 (0)479 080-833, diárias desde €665 em quarto superior para duas pessoas (tarifa válida até 29/04/2012). Pequeno-almoço não incluído (€35)

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