20.9.12

#direto de londres: nuno mendes em versão de bairro no the corner room e o regresso do projeto loft tables

[Nuno Mendes, o português de quem se fala em Londres e no mundo (foto com direitos reservados editada por jms)]

Enquanto espera pela parceria certa que o poderá trazer de volta a Portugal – “Ainda não tive propostas. Quer dizer, só uma, mas não era a certa”, confidenciou-me quase no final da nossa conversa, no bar do Viajante -, Nuno Mendes, o chef de quem tanto se fala, soma e segue em Londres.
[A entrada do Town Hall Hotel, onde fica o Viajante e também The Corner Room (©joao miguel simões, todos os direitos reservados)]

Já publiquei aqui uma curta entrevista e perfil de Mendes, mas vale a pena recordar o seguinte: depois de conquistar (e de manter) a primeira estrela Michelin para o Viajante, uma outra vitória foi motivo de celebração em 2012: o restaurante entrou para a tão desejada lista dos 100 Melhores Restaurantes do Mundo (segundo a revista britânica Restaurant), onde passou a ocupar a 80ª posição. 

[A mistura de estilos que torna o Town Hall Hotel tão especial (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Mendes faz parte de uma nova geração de chefs bastante engajada que olha a partilha entre colegas não só como algo saudável, mas também absolutamente necessário à evolução — não por acaso, o Viajante tornou-se um ponto de encontro durante as últimas cerimónias de The World's 50 Best Restaurants. Sobre o seu trabalho no Viajante, de pedra e cal no hotel Town Hall (por si só um motivo de peso para que nos abalemos até ao extremo oriental de Londres, cada vez mais na berra), já muito foi dito e escrito. 

[O lobby do hotel, no térreo, onde fica o Viajante (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Depois de ter deixado Portugal aos 19 anos para ir estudar biologia marítima nos Estados Unidos, as andanças pelo mundo e o gosto pela cozinha acabaram por trocar as voltas a Mendes. 

[Já no primeiro andar do hotel, onde fica The Corner Room (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

As viagens são aliás, mais do que a sazonalidade, uma das maiores fontes de inspiração dos menus ali criados (na sua equipa multiétnica há um núcleo duro de portugueses que o acompanham desde o início), cujo preço mínimo é de cerca de 90 euros ao jantar (seis, nove ou 12 pratos) ou de 45 euros ao almoço (três pratos, três dias por semana). Um pouco puxado para algumas bolsas, o chef sabe disso.
[Candeeiros de teto suspensos em The Corner Room (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Sem comprometer a criatividade e o conceito – no Viajante arrisca combinações inusitadas de produtos lácteos com marisco, não se acanha em usar pele de leite, coração ou línguas de pato confitadas e, sempre que pode, importa o marisco de Portugal –, a pequena sala que era usada para os pequenos-almoços do hotel, no primeiro andar, ganhou o nome apropriado de The Corner Room e um propósito: servir, em ambiente informal condizente com o espírito industrial e artístico do bairro, almoços entre os 22 (dois pratos) e 27 euros (três pratos), entre as 12 e as 16 horas (ao jantar, mantém-se o espírito, mas sem reservas e sem menu pré-definido). 

[Informal e acolhedor (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Com diferentes candeeiros de teto suspensos e mesas de madeira, The Corner Room abriu há pouco mais de um ano, mas, apesar de bastante afreguesado (gente ligada à arte, aos media, à música, além de famílias com crianças que se renderam à proposta de “restaurante de bairro”), ainda permanece escondido e reservado, o que faz com que muitos não tenham dado por este verdadeiro achado. 

[Logo para começar, a ementa e a água (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Explico. É que para os preços praticados em Londres, The Corner Room serve uma cozinha com personalidade própria, marcada pela frescura dos ingredientes, rotatividade dos pratos, aparente simplicidade (o que a torna facilmente assimilável, mais até do que a do Viajante) e um toque, aqui e ali, português (está lá o bacalhau, o queijo da serra da Estrela ou até o pão alentejano, mas não como os conhece). E no final, o preço é bom (ficará um pouco mais caro se pedir vinho, mesmo a copo, como é óbvio).

[Rústico e delicioso o pão do couvert (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Toque de génio, diz boa parte da crítica especializada, para quem, nalguns casos, o "experimentalismo" de Mendes não é levado tão longe em The Corner Room, o que o torna, aos seus olhos e palato, não só mais "abordável", como também até mais interessante, em termos de equilíbrio, do que o Viajante.

[A entrada que elegi — a lula: squid with buttermilk & romanesco (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

É uma forma de ver a coisa. Mendes talvez prefira encará-los como projetos complementares, onde propõem uma cozinha interessante, de lavra própria e com o seu quê de lúdico. 
[Como prato principal, elegi este bacalhau — delicioso, só não fiquei muito convencido com a pele desidratada servida como chips estaladiços (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Uma coisa é certa. Mendes tem planos para o futuro imediato. Ainda em outubro (novembro, o mais tardar), deve retomar The Loft Project. Em novo endereço do East End, que já foi uma fábrica de sapatos, ele será o anfitrião de jantares muito especiais que, uma vez por mês, terão um outro chef convidado. Nesta segunda etapa, o nome escolhido deverá ser Loft Tables e, segundo me avançou Mendes, vai ter uma ligação mais estreita (e oficial) com The World's 50 Best Restaurants. Escusado será dizer que fiquei bem curioso a respeito.

[De sobremesa, ruibarbo, sorvete e biscoito (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Mas há mais. Mendes antevê a possibilidade de lançar, em 2013, um belo livro dedicado ao trabalho desenvolvido no Viajante e confirmou-me que será um dos chefs presentes na edição de 2013 do Mistura, o festival gastronómico de Lima, no Peru, que se tornou uma atração mundial dentro do género.

[Fecho com o inevitável expresso (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

É esperar pelos próximos episódios.

Town Hall Hotel | Patriot Square, E2 9NF London 

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