19.12.11

#livro: o primeiro livro de receitas do chef cordeiro


O timing não podia ser melhor. 

Ser jurado do concurso "MasterChef" deu-lhe maior visibilidade junto do grande público e a estrela Michelin conquistada para o restaurante Feitoria, em Lisboa, na edição de 2012 dedicada à Península Ibérica desencadeou, em praticamente todos os quadrantes, uma reação de agrado, como que a dizer "já não era sem tempo".

Da estrela — das estrelas, na verdade, pois esta não foi a primeira que conseguiu —, já falei aqui, mas o chef José Cordeiro está de livro novo e isso merece um post.

[José Cordeiro como júri do concurso televisivo "MasterChef" (foto de divulgação)]

Em tantos anos de carreira, esta é, acredite-se ou não, uma estreia. "As Minhas Receitas Para Cozinheiros Amadores" é o primeiro livro do Chefe Cordeiro (Edições do Gosto, 210 págs., €19,90, à venda nas livrarias e no site da editora) e traz 52 receitas que o mesmo fez questão de testar na sua cozinha.

Se na forma, por comparação a outras edições nacionais e internacionais similares lançadas recentemente, o livro de Cordeiro peca por não arriscar mais, já no conteúdo é de saudar o critério de seleção (mais do que dividir apenas as receitas em entradas, peixes, carnes e sobremesas, Cordeiro agrupa-as também por produtos da sua predileção como o polvo do Algarve, o café, os tremoços ou a Pêra Rocha do Oeste), a sua acessibilidade (as receitas são ilustradas nos passos mais importantes e há indicações claras quanto a tempo de preparação, número de pessoas, grau de dificuldade e custo) e o foco assumido na cozinha portuguesa.

[Bife à café em espeto "on the rocks", uma das receitas do livro, em parceria com a Nespresso (foto de divulgação)]

Conhecido pelo seu apego às boinas, Cordeiro nasceu em Luanda, Angola, mas diz-se transmontano dos sete costados — e Trás-os-Montes, e as coisas boas desta região como os enchidos ou o Bísaro, está em destaque no livro. Viveu um largo período fora de Portugal, mas é um dos defensores mais ferozes da cozinha de matriz lusa. Por isso mesmo, no livro que chegou faz muito pouco tempo aos escaparates, pode até não ser muito audacioso, mas dá um contributo de peso à mesma.

Porque são receitas equilibradas, bem executadas e fáceis de reproduzir. E também porque, no meio de toda a informação, tem a generosidade de juntar algumas receitas de colegas (como os filetes de polvo do Aleixo) ou de partilhar dicas úteis como a de cortar as pontas dos tentáculos do polvo para evitar que este encolha ao cozer.

7.12.11

#livro: é como ter ferran adrià, o chef mais conhecido do mundo, a ensinar-nos o bê-a-bá da cozinha

[foto de divulgação]
Não, por esta altura está longe de ser um segredo, mas não há dúvida de que o homem sabe gerir, como poucos, os raros momentos de silêncio em torno da sua persona pública. Passaram pouco mais de quatro meses desde o fecho do elBulli e, ainda assim, quase nunca se deixou de falar de Ferran Adrià desde então.

Não é para quem quer; é para quem pode. E sabe.


Como num passe de mágica, o chef catalão estalou os dedos e, voilà, mais um livro nos escaparates a dar brado pelas razões certas.


A bem da verdade, "The Family Meal" (384 págs., Phaidon), assim se chama o livro, já saiu há algum tempo, mas a tão aguardada versão em espanhol foi apenas lançada em finais de Novembro ("La Comida de la Familia", RBA).

Chegou-me às mãos dias atrás e, devo dizer, estou fascinado com o raio do livro.

Quando julgamos que Adrià já esgotou o baralho, eis que, numa jogada de mestre, saca de mais um ás.

[A "grande família" do elBulli à mesa, horas antes da abertura do restaurante (foto de divulgação)]

Esqueçam a cozinha complicada praticada no elBulli. Adrià reuniu a "grande família" do elBulli mas não foi para falar de espumas, ares e esferificações. 

Não?

Claro que não. Aquilo que eles serviam no elBulli, eles provaram antes, na altura de testar até à exaustão cada receita. Depois, no dia a dia, eles queriam mesmo era comida caseira e muito mais despretensiosa (por exemplo, no livro conta-se que a equipa repetia sobretudo os pratos de pasta fresca e não dispensava arroz, não importa a maneira).

[Dupla página do livro "The Family Meal" (foto de divulgação)]

E é dela, da comida caseira, que este livro fala. Fala e mostra, pois cada receita, por mais simples que seja, é ilustrada e explicada tintim por tintim, para que não fique nenhuma dúvida.

Nada pior do que um livro de cozinha cujas receitas são impraticáveis ou que, no pior dos cenários, dão a impressão de não terem sido testadas por quem as assina. Estas tanto estão pensadas para uma família de 2 a 6 pessoas como para funcionarem em grupos maiores, de 20 a 75 pessoas.

[Dupla página do livro "The Family Meal" (foto de divulgação)]

Um dos grandes trunfos deste livro é a sua acessibilidade; outro é a sua alta taxa de exequibilidade. Sério! Até um cozinheiro menos experiente vai conseguir dar conta do recado em boa parte do que é sugerido.

O livro começa por ensinar coisas tão "básicas" como cozer ou fritar um ovo, passando depois às receitas propriamente ditas. Primeiro vêm os essenciais como os vários tipos de molhos e caldos. Só depois passamos a 31 menus diferentes (cada um deles é dividido em três: entrada, prato principal e sobremesa), que podem incluir cheeseburgers, carne à bolonhesa, polenta, ossobuco, ovos com espargos, maçãs assadas, trufas de chocolate, crema catalana e por ai vai, mas sempre com o cuidado de não exceder os cerca de €4 por refeição.

Tudo extremamente "praticável", o que o torna num manual de consulta diária. Não é para ter na sala a ganhar pó, é mesmo para ter na cozinha e à mão.

[O "masterplan" do que virá a ser a elBulli Foundation (foto de divulgação)]

Antes de terminar, não resisto a partilhar aqui umas imagens que a Phaidon, a editora do livro, "liberou" faz um tempinho e que se destinam a desvendar um pouco do que poderá vir a ser a elBulli Foundation, com abertura prevista para o Verão de 2014 se tudo correr como previsto.


A fundação, destinada a ser um pólo futurista onde se vai pensar livremente a gastronomia dos anos vindouros, ficará no lugar do extinto restaurante, na costa catalã (Cala Montjol, Roses), mas vai assumir, graças ao plano do arquiteto Enric Ruiz-Geli da Cloud 9, formas orgânicas que lembram as rochas, a fauna e a flora envolventes. As fontes de energia serão, como era de esperar, renováveis.


Na verdade, ao ver estas primeiras projeções em 3D, a sensação que fica é a de estarmos perante várias nuvens,  repletas de superfícies espelhadas, pontos de luz natural e paredes vegetais, com uma forte componente lúdica (fala-se de uma varanda, por exemplo, que se chamará "Ninho" e será feita de penas de aves do Cap de Creus) e high-tech (toda a área terá cobertura wi-fi assegurada pela operadora espanhola Telefonica).

25.11.11

#gastronomia: a estrela michelin anunciada de ricado costa no yeatman

[Ricardo Costa, uma das novas estrelas Michelin 2012 anunciadas para Portugal, com a sua equipa na cozinha de The Yeatman (foto de divulgação)]


O guia "Michelin España & Portugal 2012: Hoteles & Restaurants" foi ontem lançado oficialmente (disponível online, aqui), em Barcelona.

[o restaurante enogastronómico de The Yeatman, agora premiado com uma estrela Michelin (foto de divulgação)]

A expectativa era grande. Entre as novidades anunciadas para Portugal, destacam-se a segunda estrela conseguida por Hans Neuner para o Ocean — que fica assim a par do Vila Joya, também no Algarve — e a primeira estrela conquistada pelo chef José Cordeiro para o Feitoria, em Lisboa, e pelo chef Ricardo Costa para The Yeatman, no Porto.

[Degustação no restaurante de The Yeatman (foto de divulgação)]

Escrevi em cima do acontecimento sobre o feito de Cordeiro  em lx@ddressbook (ler aqui), mas Ricardo Costa merece-me a mesma atenção. Estive em Agosto deste ano no Yeatman e não só fiquei rendido ao hotel, como, na altura, pressenti logo que a cozinha ali praticada pelo chef natural de Aveiro tinha potencial para conseguir uma estrela Michelin. Por isso mesmo, num especial sobre o melhor da gastronomia em Portugal encomendado pela revista Rotas & Destinos (publicado em Setembro de 2011), não hesitei em colocá-lo, a ele e ao restaurante, na categoria "debaixo d'olho".

[Uma das criações de Costa em The Yeatman: Lavagante com Iogurte de Ostras e Pó de Terrincho (foto de divulgação)] 

Não me enganei, mas o mérito não é meu. Não sendo crítico, não deixo de acompanhar o que se passa no mundo da alta gastronomia com crescente interesse. No caso concreto de Costa, este tinha a seu favor o facto de ter sido, em 2008, o mais jovem chefe de cozinha português a receber uma estrela Michelin — tão mais importante porque a conseguiu ao serviço do restaurante Largo do Paço (Casa da Calçada, Amarante), anteriormente distinguido quando o chef era o mesmo José Cordeiro que agora ganhou uma para o Feitoria.

[Um dos menus de degustação criados por Ricardo Costa (clicar na imagem para aumentar e ler)]

Se, em Amarante, Costa assumia a influência do que aprendera com a avó e os pais, ambos cozinheiros, em The Yeatman, com outros meios, tornou-se claro, para quem experimentou a sua cozinha, que a aposta era mesmo para a estrela — mesmo que não o confessassem de forma declarada.

[Ricardo em ação na cozinha de The Yeatman (foto de divulgação)]

Claro, não basta querer; fazer por isso, ajuda, mas também pode não ser suficiente — são muitos os chefs que tardam em ver o seu talento e esforço devidamente recompensados pelos críticos anónimos da Michelin. Felizmente, a coisa correu muito bem para Costa e para The Yeatman, não se confirmando os piores receios que apontavam o facto de estarem abertos há pouco tempo como um possível entrave à estrela.

Reproduzo abaixo o que escrevi sobre o chef e o restaurante no já mencionado especial da revista Rotas & Destinos (para ler o artigo na íntegra, clicar aqui): 

Mesmo os nascidos e criados no Porto mal conseguem esconder o assombro quando chegam ao terraço do hotel The Yeatman e dão de caras com aquele panorama para a cidade e para o rio. Ancorado numa encosta altaneira, sobranceira ao Douro, na margem de Vila Nova de Gaia, The Yeatman é mais do que apenas um hotel vínico, mas esse pormenor faz toda a diferença na sua proposta gastronómica. Para começar, o restaurante do hotel tem à sua frente o chef Ricardo Costa, que conseguiu uma estrela Michelin quando estava no Largo do Paço (Amarante),  e de quem se espera altos voos nesta sua nova morada. Depois, quer à la carte, quer através de menu de degustação, o  restaurante enogastronómico (preço médio: €50) pratica uma cozinha de raiz regional, mas com uma abordagem contemporânea e foco nos produtos frescos, que pode e deve ser harmonizada com os vinhos da excelente adega (são já 800 referências, com 25 mil garrafas, das quais 84% são rótulos nacionais). E como possui 70 parceiros vínicos, de todo o país, The Yeatman organiza, todas as quintas, um jantar enogastronómico dedicado a um deles.

Para terminar, a lista completa das estrelas Michelin 2012 em Portugal (um total de 12 restaurantes e 14 estrelas, mais duas do que em 2011):

2 estrelas: Vila Joya (Albufeira/Algarve) e Ocean (Porches/Algarve).
1 estrela: Feitoria e Tavares (ambos em Lisboa), The Yeatman (Porto), Willie’s (Quarteira/Algarve), São Gabriel e Henrique Leis (ambos em Almancil/Algarve), Il Gallo d’Oro (Funchal), Arcadas da Capela (Coimbra), Casa da Calçada (Amarante) e Fortaleza do Guincho (Cascais).

10.11.11

#livro: as dicas de heston blumenthal, o super chef britânico

[O mais recente livro de receitas de Heston Blumenthal, o chef britânico mais falado do momento (foto de divulgação)]
Não há duas, sem três.

Numa das minhas últimas incursões nocturnas pelas prateleiras virtuais da Amazon, acabei por sucumbir ao mais recente livro de receitas publicado pelo super chef britânico Heston Blumenthal ("Heston Blumenthal at Home", Bloomsbury Publishing, 408 págs.), arrematado a metade do preço inicial (paguei cerca de €18, com portes de envio grátis) apesar de só ter sido lançado em Outubro.

De tentações (e boas pechinchas) está a Net cheia, eu sei. Mas, se tinha algumas reservas iniciais sobre o lado prático do livro, estas foram rapidamente esquecidas mal o tive nas minhas mãos e comecei a explorar os vários capítulos.

[Qual estrela Pop, Heston posa regularmente para a GQ britânica, e não só (foto com direitos reservados)]

Heston, tal como certas modelos, já ascendeu à categoria estratosférica de chefs que ganharam o direito a prefixos como super ou über para os distinguir dos demais. O seu restaurante, Fat Duck, ostenta três estrelas Michelin e está há anos de pedra e cal no top 10 da lista dos 50 melhores restaurantes do mundo. Este ano ainda, lançou o Dinner by Heston Blumenthal, no Mandarin Oriental de Londres, que se propõe a revisitar de forma contemporânea o receituário da época Tudor.

["Meat Fruit", uma das receitas históricas britânicas que Heston recuperou para o seu Dinner e que, qual trompe-l'oeil, possui recheio de foie gras e fígado de galinha (foto de divulgação)]

Mas, o facto de estar debaixo dos holofotes, ou talvez por isso mesmo, não quer dizer que seja consensual. Bem pelo contrário. Há críticos que não suportam o tipo de experimentalismo praticado no Fat Duck e outros tantos que não se deixaram convencer totalmente pelo conceito (supostamente uma brasserie fina) do novo Dinner (vídeo abaixo).


Polémicas e divórcio à parte — o fait divers fez as delícias da imprensa rosa, que não se coibiu de comentar a troca da mulher legítima por uma vistosa autora norte-americana —, Heston soma e segue. Eleito chef do ano pela revista GQ britânica, ele repaginou o visual, volta e meia está na TV ou nas revistas e tem sempre um livro ou outro projecto engatilhado. 

Em suma, ele não pára, mas também trabalha para isso. Não há milagres.

[No livro, uma salada apresentada como um "jardim" (foto de divulgação)]

Voltando ao livro, o meu medo era que fosse muito "técnico" e que tivesse o foco apontado para receitas muito trabalhosas que, na boa, são impraticáveis para o comum dos mortais, sem tempo, nem meios ou conhecimentos, para as colocar em  prática.

[Mais do que uma simples tosta de queijo, como demonstra no livro (foto de divulgação)]

Mas Heston faz jus ao título do livro e presta, efectivamente, um bom serviço a quem gosta de cozinhar em casa. Além de dicas bastante úteis de base, que só acrescentam mesmo que não as queiramos aplicar, ele reuniu em várias secções (como caldos, sopas, entradas, saladas e por ai vai) receitas que dão a volta a clássicos estafados como o cocktail de camarão, a carbonara ou até mesmo uma simples tosta de queijo ou um gin tónico, por um lado, não se esquivando, por outro, em partilhar, passo a passo, os truques para fazer um bom assado, defumar salmão ou não ficar intimidado com a conservação em vácuo.

[Outra receita partilhada no livro, a de chocolate quente (foto de divulgação)]

Faz boa vista em qualquer salão, mas "Heston Blumenthal at Home" é daqueles para ter na cozinha, sempre à mão de semear.

9.11.11

#livro: a memorabilia de nova iorque

["Fulton Street Dock, Manhattan Skyline (1935)," por Berenice Abbott]

Nova Iorque, a cidade de todos os epítetos, é um tema inesgotável. A prova disso é que já perdi a conta a todos os livros que foram publicados, só nos últimos tempos, sobre ela.

Como não sou indiferente nem à cidade nem a muitas das coisas que lhe dizem, directa ou indirectamente, respeito, tenho já um punhado deles, mas não resisti a juntar mais um à (ainda assim) modesta colecção.

"New York - The Story of a Great City" (Andre Deutsch Book, 130 págs.), publicado em parceria com o Museum of the City of New York (aliás, a edição é da sua directora, Sarah M. Henry), está disponível em Portugal (encontrei-o, por exemplo, na loja online da livraria Bertrand por cerca de €33), mas foi através da Amazon (UK) que consegui um melhor negócio: versão capa dura por cerca de €26 (com portes de envio grátis).

E o que tem ele de especial? São 400 anos de história (e de estórias) revisitados através dos arquivos do museu da cidade, que disponibilizou ilustrações, gravuras e fotografias. Mas, convenhamos, se fosse só isso, nada de verdadeiramente novo teria sido acrescentado.

[Reprodução de um postal de 1914 da Brooklyn Academy of Music]

O que o distingue dos demais é o facto de trazer encartado, com recurso a um design bem esgalhado, vários facsimiles removíveis e reproduções de documentos, mapas e artefactos antigos que estavam esquecidos. A memorabilia inclui, entre outras preciosidades, o primeiro bilhete de metro vendido, a primeira página do jornal que noticiou o funeral de Abraham Lincoln ou a autorização dada a um negro forro para circular livremente.

É um livro para ser visto — e por isso pertence assumidamente à categoria dos coffee-table —, mas também apreciado. Numa cidade que se reinventa diariamente (cliché oblige), não deixa de ser interessante percorrer os seus 400 anos por caminhos menos óbvios.

8.11.11

#livro: portugal de lés a lés com o chef ljubomir stanisic


1 livro
10 capítulos
61 horas em viagem
23 dias fora de casa
5 hotéis
5 casas e quintas de turismo rural
754 e-mails trocados
498 telefonemas
232 sms
55 ilustrações
1347 fotografias
120 amigos à mesa
6 mercados
3 hortas biológicas
3 talhos
4 chefes de cozinha convidados
Mais de 3000 ingredientes utilizados…

Para o seu segundo livro, à venda desde ontem (dia 7), o chef jugoslavo Ljubomir Stanisic fez contas a muito mais coisas do que apenas aos quilómetros — e foram 5764, já agora — palmilhados em Portugal continental.

"Papa Quilómetros — Uma Caminhada pela Gastronomia Portuguesa" (Casa das Letras, 320 págs., €25), lançado a tempo do Natal, não é só mais um livro de receitas ou de cozinha. É um tratado de amor (mais um) entre um homem e um país que se adoptaram mutuamente.

A história e o percurso de Ljubo (como, entretanto, passou a ser conhecido) são sobejamente conhecidos. Aliás, apetece mesmo perguntar se ainda há alguém que não tenha dado por ele em Portugal e arredores?

À frente do restaurante 100 Maneiras, do Bistro 100 Maneiras (ler aqui) e agora também d'O Nacional 100 Maneiras (que funciona no clube de natação lisboeta Nacional, à rua de São Bento, nº209), Ljubo está em todas. Desdobra-se em entrevistas na rádio, é convidado para vários eventos e presença assídua nas revistas, mas foi a televisão, e a sua passagem recente como jurado do programa "MasterChef", que fez com que muita gente de fora das lides gastronómicas passasse a associar o nome (e a cara) à pessoa e à obra.

[Ljubo é conhecido por cozinhar nos lugares mais improváveis, a céu aberto (©constantino leite, todos os direitos reservados)]

Ljubo não inventou a pólvora. Nunca como agora os chefs estiveram tão em foco e, um pouco por toda a parte, os que têm mediatismo e carisma aproveitam, e muito bem, o "momento" para lançar livros e investir no marketing pessoal.

Nada de errado nisso; sobretudo quando, como é o caso, há talento, criatividade e trabalho de sobra. Lujbo ganhou um lugar de destaque na cena gastronómica de Portugal não só porque sabe usar muito bem — e a seu favor — as novas plataformas, mas porque é, de facto, bom e não faz mais do mesmo. Ele (re)pensa a cozinha.

O novo livro é disso prova. Ljubo reuniu amigos e colaboradores habituais — como a jornalista Mónica Franco, sua mulher, que não se limita a assinar o texto e teve um papel essencial na produção do projecto; o fotógrafo Constantino Leite ou o ilustrador Hugo "Makarov" Martins —, escolheu a dedo os hotéis — do Aquapura Douro Valley ou Vidago Palace à Casa das Penhas Douradas —, os lugares e os restaurantes — como o Eira do Mel, em Vila do Bispo, ou o São Rosas, em Estremoz.

[A serra da Estrela, e a carqueja, foi um dos lugares por onde passou e que registou no livro (foto com direitos reservados)]

Receitas são 80, explicadas tintim por tintim e profusamente ilustradas. Mas, como escrevi no início, este não é só um livro de receitas — ele sugere roteiros, aponta locais e partilha até músicas. O que salta à vista, ao folhearmos o livro, é um levantamento que fica para a posteridade de todas as coisas boas que Portugal tem para oferecer, por vezes nos lugares mais inesperados ou recônditos, não só a nível de produtos, mas também na forma de estar.

E é, atrevo-me a acrescentar, um trabalho só possível para alguém que, nos últimos anos, tem desenvolvido um notável esforço de aproximação aos pequenos produtores portugueses e que, estando dentro, não deixou de nos olhar de fora.

17.8.11

#directo do porto: café vitória

[O detalhe retro, e bem-humorado, de um tubarão na parede de uma das salas do Café Vitória; abaixo: outro detalhe sobre o balcão do bar (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

A rua José Falcão, na Baixa portuense, é uma caixinha de surpresas.

Não sei se quem é do Porto a sente da mesma forma, mas, no meu caso, sempre que vou ali não deixo de pensar que esta é uma rua muito sui generis, que só se revela a quem se der ao trabalho de a olhar muito para lá da superfície gasta e enganosamente monótona. 

Não sabendo bem ao que se vai, o mais certo é passar batido sem reparar na montra do estilista Luís Buchinho, sem espreitar o Café Lusitano ou sem dar pelo Armazém do Chá, só para citar os endereços óbvios.

[A primeira sala do Café Vitória (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Munido do número não dei logo pelo Café Vitória, mas, depois de alguma hesitação, lá acabei por achá-lo, umas portas abaixo do já citado Armazém do Chá, no trecho final da José Falcão.

[O jardim de Inverno (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Aberto em Dezembro de 2010, o Café Vitória andava-me debaixo de olho. Descobri-o numa dessas revistas providenciais que nos vêm parar às mãos em boa hora e fiquei desde logo curioso.

[Outra perspectiva do jardim de Inverno (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

No rés-do-chão funciona o café propriamente dito, dividido por duas salas e por um agradável jardim interior, nos fundos. O prédio é centenário, pelo que não estranhamos a decoração assumidamente retro, com linhas e mobiliário que nos remetem para as décadas de 1950, 1960. A paleta de cores, com rosas, verdes e azuis, sobretudo, tem tudo a ver também.

[Sobre o balcão do bar, o chá frio e as tartes salgadas e doces que fazem parte da carta (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Gostei logo de caras. Apesar de estar um dia lindo de Verão, acabei por me instalar numa espécie de jardim de Inverno, que fica entre as salas e o jardim dos fundos.

[O chá frio de jasmim com limão tornou-se um "clássico" da casa (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Ao final da tarde, dizem-me, é mais animado, com muita gente que chega já em clima de "hora feliz", animados pela ideia de tomar um copo e petiscar umas tapas.

[Pratos do dia a €6, uma das apostas do Café Vitória (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

À hora de almoço, o local é perfeito para uma refeição mais ou menos ligeira. Dou uma olhadela rápida pela ementa e descubro que os preços são em conta, com destaque para a secção de petiscos — ovos mexidos com farinheira, grelos ou espargos a €3,50, tosta de cogumelos de Paris a €3, mini prego de lombo com mostarda Dijon a €4, vinho a copo a €2 ou batidos de fruta a €2,30, entre outras coisas.

[O jardim interior, nos fundos (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Decido-me pelo prato do dia, a €6, no caso uma massa de tinta de choco com amêijoas e tomate, e por uma bebida que já se tornou um clássico da casa: chá frio de jasmim com limão, a €1,50.

[Outra perspectiva do jardim interior (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

No final da refeição, com café, pago pouco mais do que €8 e saio com vontade de regressar um outro dia para experimentar o restaurante, que funciona no piso de cima e só abre ao jantar (sempre com uma opção vegetariana, dizem-me também), e para sentir a sua vibe de bar, com rock indie e tecno minimal germânico.

[O restaurante, no piso superior, só abre ao jantar (foto de divulgação)]

Rua José Falcão, 152, Porto, tel. 220 135 538, de dom. a qui, entre as 12.00 e as 00.00; à sex. e sáb., entre as 12.00 e as 02.00; encerra à ter.
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