8.11.11

#livro: portugal de lés a lés com o chef ljubomir stanisic


1 livro
10 capítulos
61 horas em viagem
23 dias fora de casa
5 hotéis
5 casas e quintas de turismo rural
754 e-mails trocados
498 telefonemas
232 sms
55 ilustrações
1347 fotografias
120 amigos à mesa
6 mercados
3 hortas biológicas
3 talhos
4 chefes de cozinha convidados
Mais de 3000 ingredientes utilizados…

Para o seu segundo livro, à venda desde ontem (dia 7), o chef jugoslavo Ljubomir Stanisic fez contas a muito mais coisas do que apenas aos quilómetros — e foram 5764, já agora — palmilhados em Portugal continental.

"Papa Quilómetros — Uma Caminhada pela Gastronomia Portuguesa" (Casa das Letras, 320 págs., €25), lançado a tempo do Natal, não é só mais um livro de receitas ou de cozinha. É um tratado de amor (mais um) entre um homem e um país que se adoptaram mutuamente.

A história e o percurso de Ljubo (como, entretanto, passou a ser conhecido) são sobejamente conhecidos. Aliás, apetece mesmo perguntar se ainda há alguém que não tenha dado por ele em Portugal e arredores?

À frente do restaurante 100 Maneiras, do Bistro 100 Maneiras (ler aqui) e agora também d'O Nacional 100 Maneiras (que funciona no clube de natação lisboeta Nacional, à rua de São Bento, nº209), Ljubo está em todas. Desdobra-se em entrevistas na rádio, é convidado para vários eventos e presença assídua nas revistas, mas foi a televisão, e a sua passagem recente como jurado do programa "MasterChef", que fez com que muita gente de fora das lides gastronómicas passasse a associar o nome (e a cara) à pessoa e à obra.

[Ljubo é conhecido por cozinhar nos lugares mais improváveis, a céu aberto (©constantino leite, todos os direitos reservados)]

Ljubo não inventou a pólvora. Nunca como agora os chefs estiveram tão em foco e, um pouco por toda a parte, os que têm mediatismo e carisma aproveitam, e muito bem, o "momento" para lançar livros e investir no marketing pessoal.

Nada de errado nisso; sobretudo quando, como é o caso, há talento, criatividade e trabalho de sobra. Lujbo ganhou um lugar de destaque na cena gastronómica de Portugal não só porque sabe usar muito bem — e a seu favor — as novas plataformas, mas porque é, de facto, bom e não faz mais do mesmo. Ele (re)pensa a cozinha.

O novo livro é disso prova. Ljubo reuniu amigos e colaboradores habituais — como a jornalista Mónica Franco, sua mulher, que não se limita a assinar o texto e teve um papel essencial na produção do projecto; o fotógrafo Constantino Leite ou o ilustrador Hugo "Makarov" Martins —, escolheu a dedo os hotéis — do Aquapura Douro Valley ou Vidago Palace à Casa das Penhas Douradas —, os lugares e os restaurantes — como o Eira do Mel, em Vila do Bispo, ou o São Rosas, em Estremoz.

[A serra da Estrela, e a carqueja, foi um dos lugares por onde passou e que registou no livro (foto com direitos reservados)]

Receitas são 80, explicadas tintim por tintim e profusamente ilustradas. Mas, como escrevi no início, este não é só um livro de receitas — ele sugere roteiros, aponta locais e partilha até músicas. O que salta à vista, ao folhearmos o livro, é um levantamento que fica para a posteridade de todas as coisas boas que Portugal tem para oferecer, por vezes nos lugares mais inesperados ou recônditos, não só a nível de produtos, mas também na forma de estar.

E é, atrevo-me a acrescentar, um trabalho só possível para alguém que, nos últimos anos, tem desenvolvido um notável esforço de aproximação aos pequenos produtores portugueses e que, estando dentro, não deixou de nos olhar de fora.

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