[Alex Atala, como raramente se deixa ver, num ensaio "ousado" para a revista brasileira "Trip" (direitos reservados)] |
Só dá Alex Atala. Neste domingo, na série de duetos improváveis que estão a decorrer ao abrigo do festival Paris des Chefs, foi a sua vez de se juntar aos designers, também eles brasileiros, Fernando e Humberto Campana.
Mas a passagem de Atala por Paris não se ficará por aqui.
O Brasil, já todos sabemos, é o país da vez e quase tudo o que lhe diga respeito — para o bem e para o mal — vira notícia.
Há, claro, um lado perverso e uma lógica distorcida em tudo isso, mas, para já, fiquemos pelo lado positivo do fenómeno.
Nunca, como agora, a gastronomia brasileira (e os chefs, e os produtos e tudo o mais que lhe está associado) foi tão falada, esmiuçada e desejada.
O mérito será do coletivo, como ficou devidamente provado na última edição do festival Gastronomika dedicada ao Brasil, ao México e ao Perú, mas ninguém em seu perfeito juízo contesta que a ascensão de Alex Atala ao pelotão mundial dos über-chefs foi determinante para este boom.
Com a sua base em São Paulo, onde comanda os restaurantes D.O.M. e Dalva e Dito, Atala é cada vez mais "figurinha fácil" — para usar um termo bem brasileiro — em tudo o que é evento e festival gastronómico. Aqui, na Lapónia ou em Paris. Não importa onde, por certo, ele estará lá.
Nada disto acontece por acaso. Atala pode não ter sido o primeiro a se interessar pelos produtos genuinamente brasileiros, mas a sua pesquisa e o trabalho que tem vindo desenvolver em prol dos mesmos não só atraiu a atenção geral como abriu caminho para que uma nova geração — e outra não tão nova assim — de cozinheiros brasileiros possa igualmente estar a beneficiar, e participar ativamente, deste bom momento.
Mas Atala é Atala. No próximo dia 24, terça-feira, ele será, nada mais, nada menos, o primeiro chef estrangeiro alguma vez convidado pelo francês Alain Ducasse a cozinhar um almoço inteiro de sua autoria no restaurante do hotel Plaza Athenée.
Em entrevista ao caderno Paladar do jornal "Estadão", a 19 de Janeiro, Atala conta como tudo aconteceu: "Foi no ano passado. Ele comeu o menu de degustação [do D.O.M.] e, na hora de ir embora, parou na porta e perguntou: 'Você não quer cozinhar no Athenée?' Aceitei e fiquei emocionado, mas, sinceramente, não achei que fosse acontecer."
Pois vai. Não só vai, como até já foi divulgado, pelo próprio Atala, o menu a ser degustado por convidados da imprensa francesa:
Amuse-bouche: Mil folhas de mandioca
Pratos principais: Chibé; Fettuccine de palmito na manteiga e sálvia, queijo parmesão e pó de pipoca; Ostra panada com tapioca marinada; Raia na manteiga de garrafa com tomilho limão, mandioquinha defumada, bróculos e espuma de amendoim; Robalo com tucupi; Arroz negro levemente tostado com legumes verdes e leite de castanha do Pará; Fliet mignon de javali com toffee e mandioca à Brás;
Pré-sobremesa: Sorbet de taperabá
Sobremesas: Piprioca, ravióli de limão e banana ouro; Torta de castanha do Pará com sorvete de whisky, curry, chocolate, sal, rúcula e pimenta
Ainda ao mesmo jornal, o chef contou que, em Março, estará de novo em França para ser o presidente de honra da seção Europa do júri Bocuse d'Or, e que, ao longo deste ano, estará em destaque em duas publicações históricas: na revista "YAM", de Yannick Alléno, para divulgar 40 receitas e, em Outubro, num belo livro publicado pela editora britânica Phaidon sobre a cozinha do D.O.M., com fotos de Sérgio Coimbra.
Não é para quem quer; é para quem pode.
E Atala, que dos seus dias de punk e "bad boy" da Augusta (zona boémia de São Paulo) guardou a irreverência, pode.
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