26.1.12

#gente em destaque: ferran adrià (sempre ele) a nu na edição mais do que especial de 2012 da revista "matador"

[Adrià é o grande protagonista da edição de 2012 da revista espanhola "Matador" dedicada à letra "N" (foto de divulgação)]

"Ferran Adrià não é um cozinheiro. É um criador e um intérprete que converteu a cozinha numa representação, numa performance, numa ópera."

A tradução para português é minha, mas as palavras são de Vicente Todolí, a quem coube a honra de fazer o texto de abertura da edição deste ano da revista espanhola "Matador", com lançamento previsto em Março (publicada por La Fabrica, em espanhol e inglês, preço de capa: €70, é já possível fazer a pré-encomenda pela Amazon ou no site da editora).

[Adrià tirou a roupa para a capa de uma edição que promete tornar-se um objeto de desejo e de coleção (foto de Pedro Madueño)]

Desde o fecho do elBulli, em finais de Julho de 2011, perdi a conta às capas, às entrevistas, aos documentários e a tudo o mais que diga respeito a Adrià. 

Muito mais está ainda por vir (um filme, uma exposição, mais livros...), pelo que nem eu, nem ninguém, acredita na retirada de cena de Adrià até à abertura da fundação elBulli no Verão de 2014 (ler aqui o que escrevi a propósito). De uma forma ou de outra, ele far-se-á presente.

[Foto publicada pela "Matador"]

E o que traz de novo esta edição da "Matador" que ainda não saibamos ou não tenhamos visto de Adrià?

Para começar, qualquer edição da "Matador" é, per si, uma coisa excecional. Editada à razão de uma por ano, nasceu com a letra "A" em 1995 e terminará com a letra "Z" em 2022. Cada edição temática, dedicada a uma letra diferente do alfabeto, versa sobre artes, cultura e tendências, o que já lhe valeu, pelos conteúdos e pelo layout apurado, inúmeros elogios e prémios internacionais.

[Foto publicada pela "Matador"]

A edição de 2012, que já vai na letra "N", tem Adrià como principal protagonista e, mesmo antes de estar disponível ao público, já fazia as manchetes de jornais como "El País" ou a revista "Time".

Os responsáveis pela revista sabiam de antemão que não bastaria fazer mais do mesmo. Para mostrar um lado desconhecido, e desvendar um pouco do que será o futuro do "chef mais influente da última década", a revista teve, por cerca de dois anos, uma equipa a trabalhar de muito perto com Adrià.

[Foto publicada pela "Matador"]

No capítulo dedicado ao passado, álbuns de fotos inéditas revelarão como era o restaurante antes da chegada de Adrià, quando pertencia ao casal Hans e Marketta Schilling, e de como era a vida de Ferran e do seu irmão Albert antes do elBulli. Há ainda maquetas em plasticina dos pratos mais emblemáticos servidos no restaurante e a demonstração do famoso El Mapa Evolutivo, método que Adrià utilizava para auditar a criatividade.

Para ilustrar o momento presente, quer Adrià, quer o seu irmão e sócio Albert falam dos seus percursos e dos projetos vindouros. Por outro lado, vários autores e artistas, como o músico Peter Gabriel (que compôs o CD "Full Strecht" para esta edição) ou o cineasta Bigas Luna, abordam a relação de Adrià com a ciência, o cinema, a educação ou as artes.

[Foto publicada pela "Matador"]

Numa outra perspetiva, a relação de Adrià com o Japão ganha destaque, com registos das suas visitas aos mercados e ao mítico restaurante Mibu, bem como dos pratos que criou inspirado pelo país do "Sol Nascente".

elBulli transformou para a sempre a forma como entendíamos e víamos a comida. Por isso mesmo, autores como Yves Michaud, Gastón Acurio ou o impagável Bob Noto escrevem sobre o prazer dos oito sentidos.

[Foto publicada pela "Matador"]

O número "N" não se fica por aqui. Entre outras coisas, há ainda um portfólio sobre a arquitetura do restaurante e um dicionário que desvendará um pouco mais sobre como será a fundação que surgirá em breve no seu lugar; importa, contudo, ressalvar que Adrià foi igualmente chamado a colaborar nos outros conteúdos da revista, tendo cabido a ele, por exemplo, a escolha dos três "matadores" de quem também se fala e escreve na edição: Johann Cruyff, por Vicente Verdú; Michel Guérard, por Andoni Luis Aduriz; e Rafa, por Silvia Fernández.

Sejamos francos. Com apenas sete mil exemplares, e um preço pouco "camarada", esta não é, nem pretende ser, uma revista para todos. Mas, como legado de uma época, tem tudo para se tornar algo digno de ser guardado e estimado.

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