28.6.11

#directo de madrid: matadero, a cidade das artes, e o rio Manzanares

[Um dos espectáculos em cartaz no Matadero (©joão miguel simões, todos os direitos resrvados)]

A geografia de uma cidade não é uma coisa estanque, imutável. Todos sabemos. Mas presenciar essas mudanças, ao vivo e a cores, é uma outra coisa.

Há cerca de dois anos, na minha anterior passagem pela capital espanhola, o Matadero Madrid era, a par da Casa Encendida, a grande novidade no que dizia respeito à divulgação da cultura contemporânea na cidade.

[O Matadero deu novo uso ao antigo matadouro e mercado municipais de Madrid (©joão miguel simões, todos os direitos resrvados)]

Não era, não é, pouca coisa. Sobretudo se levarmos em conta que o Matadero se encontra já fora de mão — mas perfeitamente acessível por metro, como pude comprovar agora — no bairro madrileno de Legazpi (esse é também o nome da estação de metro mais próxima, linhas 3 e 6), junto ao rio Manzanares, assim uma espécie de zona limite, a sul, entre a cidade propriamente dita e o parque fluvial.


A menos de dois quilómetros de distância do principal centro cultural de Madrid, constituído pelos museus do Prado, Reina Sofia, Thyssen e CaixaForum, o Matadero quer ser encarado como um prolongamento ribeirinho do eixo Prado-Recoletos.





[O bar junto à boca de cena (©joão miguel simões, todos os direitos resrvados)]


Entendo — e aplaudo — a ideia, mas, até ver, ir ao Matadero, não sendo de todo difícil, também não é evidente para quem visita a cidade e, por regra, se fica pelo mais óbvio (e mais perto). 


O Matadero, é bom dizê-lo, não foi chamado assim por puro capricho. O complexo está instalado no que foi outrora o matadouro e o mercado municipais. Não é inédito, pois em Roma também se deu um uso artístico a um matadouro, mas o conjunto de edifícios madrilenos vai mais além, pois são belíssimos exemplares da arquitectura industrial do século XX e, até 2012 (previsão optimista, acho, para a conclusão do projecto), constituem já uma verdadeira megapólis das artes. 


[A sinalética do Matadero faz jus à sua irreverência (©joão miguel simões, todos os direitos resrvados)]


Com entrada livre, o Matadero possui uma boa margem de crescimento, com muitas áreas por ocupar, mas, nos últimos anos, tem-se já desdobrado em exposições temporárias, instalações, workshops, espectáculos de dança, de teatro... Há sempre algo a acontecer, com maior ou menor interesse, além de contar com um bar e restaurante e de ser um importante pólo de investigação ligado às artes cénicas.

E gosto muito da ideia de que se pode interagir, tocar, sentar. Não é um espaço-redoma. É para ser vivido e desfrutado.


[O Matadero possui zonas de trabalho abertas ao público (©joão miguel simões, todos os direitos resrvados)]

O Matadero não se esgota em si mesmo. Uma das suas premissas mais importantes era, e é, também ajudar a reabilitar o rio Manzanares e todo a zona a sul, relegada para segundo plano durante anos a fios.

A Nueva Ribera del Manzanares, como parque, é ainda um projecto embrionário, mas, concluída a plantação de árvores e arbustos, é dar tempo ao tempo para que toda esta nova área verde, com várias pistas e alas, comece a ganhar pujança e se torne, de dia para dia, mais aprazível.

[A Puente del Matadero, sobre o Manzanares (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

A falta de sombras, para já, torna esta zona num braseiro difícil de suportar nas horas de maior calor, pelo que não aconselho um passeio à torreira do sol — como eu fiz —, mas vale a pena começar a prestar muita atenção ao Manzanares, pois, ao abrigo do programa Madrid Río, este vai passar a dispor de 22 pontes e passadiços.

[A pintura mural na cobertura da Puente del Invernadero (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Nem todos são novos, mas entre as novidades com pinta de ícones arquitectónicos estão as duas pontes gémeas del Invernadero e del Matadero (elípticas, elas são cobertas e ostentam pinturas de cenas urbanas) ou, ainda em construção, a Arganzuela, com traçado de Dominique Parrault.

[O Matadero desde a nova ponte que leva o seu nome (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Para manter debaixo de olho numa próxima visita à capital espanhola.


Centro de Creación Contemporánea, Paseo de la Chopera, 14, Madrid/Espanha, tel. +34 915 177 309, entrada gratuita, de ter. a sex. entre as 16.00 e as 22.00; aos sáb., dom. e feriados, entre as 11.00 e as 22.00

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